Não dá para largar os remos: o desafio do vínculo em tempos difíceis



Em muitas passagens da vida, temos a sensação de estar à deriva: cercados por emoções fortes, inseguranças e medos antigos que voltam à tona como ondas. Nessas horas, a metáfora de estar num barco em alto-mar ganha força — especialmente dentro do contexto psicanalítico.

Wilfred Bion, um dos principais pensadores da psicanálise de grupos, usava essa imagem para falar do processo terapêutico. Para ele, estar em grupo ou em uma relação analítica é como estar num barco com outras pessoas: todos precisam remar. E quando o mar das fantasias inconscientes — como a raiva, a culpa, a ansiedade primitiva — se agita, é justamente ali que o esforço conjunto se torna vital.

A frase que inspira esta reflexão é simples, mas profunda:

"Estamos no mesmo barco num mar um tanto bravio. Mas não dá para largar os remos."

Ela resume o compromisso mútuo necessário em qualquer vínculo terapêutico: o analista não abandona o paciente, o paciente é encorajado a não abandonar a si mesmo. No grupo, cada um tem sua parte na travessia. É um pacto silencioso de cuidado, presença e resistência.

Mesmo fora do setting analítico, essa metáfora toca a vida de todos nós. Em tempos difíceis — crises pessoais, familiares ou coletivas — é comum sentir vontade de parar, de se isolar, de “largar os remos”. Mas é justamente quando o mar se mostra mais agitado que precisamos seguir, com coragem e apoio mútuo.

Remar juntos não significa negar a dor. Significa reconhecê-la e não desistir. Significa confiar que, mesmo em mar bravio, há direção possível. E que ninguém precisa atravessar sozinho.

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