Não existe consenso científico em torno da definição do Guaíba como rio ou lago, porque este tem comportamento dual, afirmou nesta quinta-feira (16) o professor Joel Avruch Goldenfum, diretor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS). "As margens se comportam bem como lago, principalmente envolvendo questões de recirculação, baixa profundidade, sendo basicamente bidimensional, ou seja, não existe direção predominante. O rio tem uma direção como se fosse uma linha.
No lago, a água fica girando", exemplifica. De acordo com Goldenfum, no meio do Guaíba passa um canal grande, de onde vêm águas do Rio Jacuí, que drena 80 mil quilômetros quadrados, ou um terço das águas do estado. "É muita água; então, tem uma corrente importante. Por isso, pessoas argumentam que um lago pode ter um rio passando por ali. Só que, muitas vezes, o comportamento é predominante como rio e, outras vezes, pode ser predominante como um lago", detalha.
Para ele, em termos de modelagem, de variação de níveis, de como o Guaíba enche ou esvazia, pouco importa se vão chamá-lo de lago ou de rio. O que importa é modelar os processos. "Porque, na verdade, vou modelar o sistema considerando todas as influências que ele tem, considerando o que acontece quando ele sobe, onde ele recircula etc", disse Goldenfum que também ressaltou, contudo, que existem outras questões envolvidas que são mais de questão legal e que mudam o problema.
Interpretações
De acordo com a legislação, se o Guaíba for um rio, tem de ter um recuo não edificado muito grande que, dependendo do local, pode variar de 100 metros a 500 metros. Ninguém tiraria o que já existe, mas não poderia edificar novas construções. Se for considerado lago, a área não edificada varia entre 10 metros e 30 metros, dependendo das interpretações. "Existem interpretações distintas sob o ponto de vista científico, sem se preocupar com a questão legal, e pessoas que dizem que o Guaíba se comporta predominantemente como rio, ou predominantemente como lago. Quem chega primeiro dá o nome", afirma o professor. Goldenfum lembrou que o nome dos biomas aquáticos é dado pela população. "A população sempre chamou de rio Guaíba. De repente, houve essa movimentação, que pode ter tido motivação técnica, no sentido de que o Guaíba seria predominantemente lago, ou pode ter outras motivações. O consenso não existe, por isto Guaíba tem comportamento dual", reafirmou o professor.
Por outro lado, existe um movimento legal, capitaneado pela Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural e o Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais, para que o Guaíba tenha uma faixa de proteção permanente. Há também uma ação civil pública questionando a definição do Guaíba como lago. "Quem vai decidir isso, no final das contas, vai ser a Justiça, e não a ciência", disse Goldenfum. Até os anos de 1990, o Guaíba foi considerado rio. A partir daí, passou a ser definido como lago.
Oficialmente, a prefeitura de Porto Alegre assumiu recentemente o Guaíba como lago. Inclusive, existe o Comitê da Bacia do Lago Guaíba. O coordenador-geral do Atlas Ambiental de Porto Alegre e também da UFRGS, Rualdo Menegat, afirma que a polêmica geográfica em torno do rio ou lago Guaíba e da lagoa ou laguna dos Patos não se justifica. Menegat afirmou que, do ponto de vista da ciência, o correto é chamar de lago Guaíba. "Não temos dúvida sobre isso. Mas há também o nome mais popular, que é rio Guaíba", contextualiza.
Segundo o geólogo, nos últimos 20 anos, o nome lago Guaíba tem sido mais usado porque as pessoas foram se convencendo que ele, na verdade, funciona como um lago. "Também é importante que as pessoas se conscientizem pelo nome correto, porque aquilo que a gente joga em um lago fica ali. Aquilo que se joga no rio, as pessoas pensam que é um problema do vizinho de baixo", relata. Por isso, insistiu que do ponto de vista da gestão ambiental, é importante que se usem conceitos corretos porque estes são os que os professores vão ensinar na sala de aula. O Guaíba é definido como um lago aberto que recebe água da rede fluvial, formada por quatro rios [Jacuí, do Sinos, Caí e Gravataí] que afluem para o lago Guaíba, que, por sua vez, também escoa essa água para a laguna dos Patos, pois está conectado com ela.
Fonte: Amanhã
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