1. Abordagem sobre a Loucura de Arthur Fleck
O filme "Coringa 2" explora de forma profunda a fragilidade de Arthur Fleck, representando sua psicose de maneira mais crua e desglamourizada. Sob a luz da psicanálise lacaniana, a narrativa reflete o conceito de "sujeito dividido", onde a loucura de Arthur se desenvolve como um processo de perda de controle do Real. Fleck está em busca de uma unidade que nunca será alcançada, simbolizando a falha na estruturação do Grande Outro, levando-o à apatia.
2. A Relação com Arlequina
A relação entre Fleck e Arlequina, interpretada por Lady Gaga, é retratada como um exemplo do conceito de "Folie à Deux" – um delírio compartilhado. No entanto, Lacan oferece uma perspectiva onde o desejo do sujeito só se realiza no campo do desejo do Outro, e assim, o vínculo entre eles se torna um reflexo de suas próprias projeções e necessidades inconscientes. A dualidade entre os personagens evidencia a falha de comunicação psíquica, onde ambos compartilham uma alienação que se alimenta mutuamente, mas que é incapaz de promover a integração.
3. Musicalidade e Subjetividade
A escolha de transformar o filme em um musical também pode ser analisada através do conceito de "lalíngua" de Lacan – a musicalidade da linguagem que transcende o significado literal e entra no domínio do inconsciente. As canções e danças que permeiam a trama evocam o jogo de significantes que Lacan descreve, onde o sujeito se perde no caos da linguagem e busca, através da performance, dar forma ao inominável.
4. Decepção do Público e a Dialética do Desejo
A frustração de parte do público com o novo tom do filme pode ser vista como um reflexo do desejo inconsciente de uma continuidade do primeiro "Coringa". A apatia de Fleck e sua busca infrutífera por controle colide com o imaginário do público, que esperava um retorno ao caos carismático. No entanto, Lacan nos lembra que o desejo é, por natureza, insatisfeito – e "Coringa 2" entrega justamente essa insatisfação como parte de sua mensagem.
Em "Coringa 2", a psicanálise lacaniana ilumina as complexidades da subjetividade de Arthur Fleck, sua relação com o Outro (Arlequina) e a forma como o filme usa a música para acessar o inconsciente. A trama desafia o público a confrontar a impossibilidade de satisfazer completamente o desejo, tanto no personagem quanto em si mesmos.
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