O fim de ano costuma ser associado à alegria, celebração e renovação. No entanto, para muitas pessoas, esse período desperta sentimentos ambíguos: esperança, mas também angústia, tristeza e até desespero. À luz da psicanálise, essa experiência não é um sinal de fraqueza emocional, mas uma resposta profunda aos processos simbólicos que envolvem o tempo, o desejo e a falta.
O fim de ano como marcador simbólico do tempo
Para a psicanálise, o tempo não é apenas cronológico. Sigmund Freud mostrou que o inconsciente não segue a lógica linear do calendário. Passado, presente e futuro coexistem na vida psíquica.
O fim de ano atua como um ritual moderno de fechamento de ciclos, levando muitas pessoas a fazer balanços da própria vida, revisitar perdas e comparar expectativas com a realidade vivida. Esse movimento pode gerar conforto, mas também sofrimento emocional.
A esperança como promessa de recomeço
A esperança associada ao ano novo está profundamente ligada ao desejo. Jacques Lacan afirma que o desejo humano nasce da falta e nunca se satisfaz completamente. Ainda assim, é o desejo que sustenta o movimento da vida.
O ano novo funciona como um símbolo de renovação e pode ser saudável quando não se transforma em cobrança excessiva, mas em um espaço para pequenas transformações possíveis.
Quando o fim de ano desperta angústia
Ao mesmo tempo, o fim de ano pode intensificar a angústia, especialmente quando o sujeito se confronta com aquilo que não conseguiu realizar ou elaborar.
Na psicanálise lacaniana, a angústia surge quando somos colocados diante do real: perdas, solidão, lutos e a sensação de fracasso. A pressão social por felicidade tende a agravar esse sofrimento.
Comparação, redes sociais e sofrimento psíquico
As redes sociais amplificam esse processo. Imagens de festas, viagens e conquistas criam a ilusão de uma felicidade generalizada, enquanto muitos vivem um sentimento silencioso de inadequação.
Freud descreveu a melancolia como um luto não elaborado, no qual o sujeito volta a dor contra si mesmo. O fim de ano frequentemente reativa esse estado.
O vazio dos rituais modernos
Diferente dos rituais tradicionais, o fim de ano contemporâneo é marcado pelo excesso de consumo e pela aceleração. Quando o simbólico falha, o sofrimento aparece.
O excesso de celebração pode funcionar como uma tentativa de evitar o contato com o vazio, mas esse vazio retorna na forma de angústia e esgotamento emocional.
Um convite ao recolhimento e à escuta interior
A psicanálise não propõe euforia forçada. Donald Winnicott nos lembra que saúde emocional está ligada à capacidade de estar só, em contato consigo mesmo, sem colapsar.
Quando o sujeito aceita que nem tudo se fecha perfeitamente, o fim de ano pode se tornar um tempo de verdade interior e cuidado psíquico.
Fim de ano, saúde emocional e espiritualidade
Na espiritualidade holística, o fim de ano pode ser visto como um tempo liminar, um espaço entre o que foi e o que ainda não é. Um convite ao silêncio, à introspecção e à reconexão com o sentido da própria jornada.
Conclusão
O fim de ano intensifica aquilo que já está presente no psiquismo. Ele pode ser esperança, angústia ou oportunidade de autoconhecimento. Cuidar da saúde emocional nesse período não é celebrar mais, mas escutar melhor.

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