Todos podemos evitar o agravamento das estatísticas de suicídio.



Setembro Amarelo

Todos somos responsáveis pela saúde dos que estão à nossa volta. Todos podemos evitar o agravamento das estatísticas de suicídio

Por que reservar um mês do ano — pelo menos — para falar de prevenção do suicídio? A resposta mais óbvia é que o autoextermínio é caso de saúde pública no Brasil e no mundo, e o silêncio em torno do assunto agrava a situação. O silêncio das escolas de Medicina, que formam profissionais despreparados para lidar com os “sobreviventes de si mesmo”. O silêncio das mídias, que deveriam reportar com maior frequência os fatores de risco associados ao suicídio e os serviços de apoio e assistência aos que padecem de um sofrimento difícil de descrever.

O suicídio é um problema complexo, multifatorial, que não se presta a generalizações apressadas e sem fundamento. Nem sempre é possível perceber os sinais que podem desencadear o ato suicida. Mas quando alguém se isola, se afasta do convívio social, demonstra desinteresse e desalento acentuados, vale checar o que está acontecendo. Frases soltas (numa conversa ou por escrito) do tipo “se não der certo eu desisto de tudo” ou “não suporto mais nada” — ainda que se revelem um blefe — merecem atenção. Em se confirmando a ideação suicida, é preciso procurar ajuda especializada para que se defina a melhor rota terapêutica. Na rede pública, os CAPs (Centros de Atenção Psicossociais) foram criados para também atender a essa demanda .

Algumas pesquisas indicam que, em pelo menos 90% dos casos confirmados de suicídio, há relação com patologias de ordem mental, principalmente a depressão. Importa não confundir estado depressivo (a tristeza inerente às situações da vida) com depressão (tristeza persistente que demandará cuidados especiais), e resistir às consultas grátis pela internet com o “Dr. Google”. Pesquisas recentes do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ) indicam que 40% dos brasileiros fazem autodiagnóstico pela internet, e mais de 72% se automedicam.

Outro dado preocupante é que a venda de antidepressivos e estabilizadores de humor no Brasil deu um salto de 52% de 2013 para cá. Na avaliação da Associação Brasileira de Psiquiatria, esse rápido crescimento só pode ser explicado pela venda irregular — sem prescrição médica ou com falsificação de receitas — nas farmácias. Dependendo da substância ou da dosagem ingerida, a farra da automedicação pode causar dependência ou até mesmo a morte.

Quando o assunto é suicídio, o único aumento a ser festejado é o do número de atendimentos realizados pelo Centro de Valorização da Vida . Fundado em 1962 em São Paulo, o CVV realiza um serviço voluntário de apoio emocional e prevenção do suicídio por telefone ou pela internet. Este ano, por iniciativa do Ministério da Saúde, as ligações feitas para o número 188 passaram a ser gratuitas em todo o território nacional. Resultado: de aproximadamente um milhão de atendimentos por ano, o serviço deverá alcançar a marca de três milhões até o fim deste ano, mesmo não tendo nenhuma grande divulgação nas mídias.

Cabe lembrar que a instituição vem operando com sucesso um chat que abre um canal de comunicação direta com os mais jovens, segmento onde o suicídio vem crescendo com mais intensidade em boa parte do mundo. De acordo com a OMS, o suicídio já seria a segunda principal causa de morte de pessoas entre 15 e 29 anos. No Brasil, o número de casos aumentou 65% entre pessoas de 10 a 14 anos e 45% no grupo que vai dos 15 aos 19 anos (entre 2000 e 2015), enquanto, na média geral da população, o aumento neste período foi de 40%. Não é possível determinar com exatidão o que explicaria esse fenômeno, mas os suicidólogos que investigam o assunto costumam apontar como fatores de risco a ausência dos pais, dificuldade de lidar com frustrações e decepções, acesso facilitado às drogas, individualismo, consumismo, impulsividade, entre outras questões.

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